A ÁFRICA ESTÁ CONECTADA COM O BRASIL POR DIVERSAS RAZÕES
Por Rafael Ferreira da Silva
“Os conhecimentos africanos podem ser vislumbrados na base material que essencialmente transmite uma leitura do passado ressignificada no presente”
Na primeira pelos conhecimentos tecnológicos, filosóficos e as sociabilidades da população africana e afrodescendente no período afro diaspórico. Em segundo lugar, pelas constituições de territórios brasileiros a partir de uma configuração social que acontecia em África, que antecede o processo de escravismo criminoso, e, foram difundidas no Brasil. No terceiro temos a organização social no urbanismo, nas feiras, na formação das Irmandades, na dança e no sentido mais amplo das comunidades e reorganização do espaço geográfico, especialmente com o urbanismo nos quilombos e nos núcleos urbanos de maioria afrodescendentes e/ou “bairros negros”.
Os conhecimentos africanos podem ser vislumbrados na base material que essencialmente transmitem uma leitura do passado ressignificada no presente, mesmo que isso possa não ser percebido pela obstrução do pensamento eurocêntrico. Para entender atentamente a complexidade técnica da população africana é preciso suplantar as centralidades científicas eurocentradas que corroboram para invisibilidade do pensamento africano na sistematização da organização material e imaterial.
No que tange à divisão do trabalho africano no Brasil, existem várias profissões que fomentaram a organização do espaço geográfico, dentre elas destacamos a do servente que prepara a matéria prima, a do pedreiro que coordena o preparo e recebe tal matéria para construir determinado edifício e/ou casas. Não é o engenheiro europeu, ou até mesmo o arquiteto que projeta, é o pedreiro que coordena a projeção, e sempre há uma essência social que é transmitida para as sociabilidades urbanas um significado importante, a saber, identidade sociocultural e o vínculo de pertencimento pelo lugar.
A ideia de desarticular matéria de essência é uma criação europeia e eurodescendente no período capitalista-industrial brasileiro. O trabalho nas sociedades africanas não é compreendido como no ocidente e nem com base no capitalismo europeu, isto é, baseada nas disputas de poder bélico, estruturação de um sistema central econômico e uma desqualificação étnica. Um dos exemplos da organização das sociedades africanas pode ser percebido através dos tuaregues, por exemplo, os mesmos eram grandes comercializadores de ouro e couro. Essa população utilizava o couro para armazenar água e conseguir enfrentar longas viagens bem como as vestes onde se cobre o rosto e cabeça, como se fossem reis e rainhas.
Texto: Rafael Ferreira da Silva, professor de Geografia, pesquisador do Núcleo de Estudo e Pesquisa em Educação, Gênero e Relações Étnico-Raciais – NEGRER